Por que empresas estabelecidas devem investir em crescimento focado no clima

| Relatório

Observação: Nós nos empenhamos ao máximo para manter o espírito e as nuances originais de nossos artigos. Porém, pedimos desculpas desde já por quaisquer erros de tradução que você venha a notar. Seu feedback é bem-vindo através do e-mail reader_input@mckinsey.com

Embora tenha havido recentemente um avanço notável nas intenções de investir em soluções climáticas, é importante manter uma visão de longo prazo dos ciclos econômicos e de mercado como um todo, pois ações para mitigar as emissões são mais necessárias do que nunca. Os investimentos corporativos na construção de novos negócios de tecnologia climática aumentaram continuamente de 2019 a 2023, impulsionando o crescimento de quem investiu ativamente. Hoje, porém, o nível de implantação de tecnologias de baixa emissão é apenas 10% do que seria necessário para atingirmos o net zero em 2050.

Mais insights da McKinsey em português

Confira nossa coleção de artigos em português e assine nossa newsletter mensal em português.

Navegue pela coleção

As empresas estabelecidas, especialmente em setores de uso intensivo de capital, podem desempenhar papel importante na redução desse descompasso. Muitas das empresas mais bem estabelecidas do mundo possuem vantagens inerentes – como o peso do seu balanço patrimonial, a escala organizacional, a experiência na execução de projetos de capital, e capacidades estratégicas e de P&D. Houve algumas turbulências ultimamente – investimentos protelados, projetos abandonados e a diluição do compromisso corporativo com a descarbonização –, mas é inegável que houve também um claro aumento dos investimentos entre 2019 e 2023. Em vista de alguns reveses recentes, é fundamental que todas as empresas busquem assegurar sua rentabilidade e garantam um crescimento sustentável ao longo dos ciclos de negócios das tecnologias climáticas.

Este relatório é um panorama das empresas estabelecidas que, no passado recente, investiram em novos negócios focados nas tecnologias climáticas e busca identificar o que é possível aprender com suas experiências. Explicamos como a nossa “fórmula de hiperescala” – baseada no trabalho que realizamos com tecnologias climáticas desde 2022 – pode ser utilizada por essas empresas para escalar negócios de tecnologia climática ao longo dos ciclos. Por fim, investigamos algumas empresas precursoras nessa área para extrair as lições de suas experiências.

Investimentos de empresas estabelecidas em negócios climáticos de alto crescimento

Constatamos que os investimentos em crescimento focados no clima das 377 maiores empresas estabelecidas, muitas das quais intensivas em capital, sextuplicaram entre 2019 e 2023, totalizando $683 bilhões (Quadro 1), e abrangem despesas de capital destinadas a tecnologias climáticas, gastos com P&D, investimento de capital próprio, participações de capital de risco, inclusão de tecnologias climáticas nos principais portfólios e spin-offs de negócios focados em tecnologias climáticas (veja o Box “Nossa metodologia”). Esses investimentos foram feitos em 12 categorias de tecnologias climáticas capazes de reduzir em até 90% o total de emissões de gases do efeito estufa geradas pelo ser humano.

As empresas estabelecidas dos setores de energia, veículos automotivos e petróleo e gás foram as que mais investiram em negócios climáticos durante esse período, sendo que os setores automotivo e de petróleo e gás apresentaram as maiores taxas de crescimento. Despesas de capital representaram de 73% a 90% do investimento anual ao longo do período.

Os setores automotivo, de petróleo e gás e de energia são os que mais investem em valores absolutos, embora haja muita variação em termos relativos, isto é, proporcionalmente ao investimento total das empresas. O setor de energia, em média, dedicou 24% do total de seus investimentos às tecnologias climáticas; o setor automotivo, 19%; e o de petróleo e gás, 8%.

Uma minoria das empresas estabelecidas lidera esses investimentos: 140 das grandes empresas que pesquisamos foram responsáveis por investimentos de $683 bilhões, enquanto as demais realizaram investimentos mínimos. Embora os gastos venham aumentando em todas as regiões, as empresas da Europa e da Ásia são responsáveis por cerca de 80% dos investimentos climáticos das empresas estabelecidas.1

O que está impulsionando os investimentos das empresas estabelecidas em negócios de tecnologia climática?

Menos de 10% das empresas são responsáveis por 50% dos $1,3 trilhão de investimentos anunciados em negócios de tecnologia climática até 2030. Esse subconjunto de empresas também foi responsável por 20% dos investimentos corporativos focados no clima nos últimos cinco anos.

Até o momento, as empresas estabelecidas têm geralmente priorizado investimentos em negócios de tecnologia climática por um de três motivos: oportunidade inédita de crescimento, possível declínio do negócio principal ou exigências regulatórias.

Os investimentos em tecnologia climática das empresas estabelecidas têm horizontes de tempo distintos

O modelo de três horizontes de crescimento da McKinsey permite que as empresas avaliem e priorizem suas oportunidades de crescimento e de investimento. O “horizonte 1” são os negócios existentes, geralmente baseados em combustíveis fósseis, que geram o fluxo de caixa presente das empresas. O “horizonte 2” abrange oportunidades emergentes; são os negócios de forte crescimento que merecem investimento imediato e, ao crescerem, geram lucro. O “horizonte 3” são as opções de crescimento futuro. Os negócios de tecnologia climática podem se encaixar em qualquer um dos três horizontes, embora tendam aos horizontes 2 e 3.

A maturidade de um negócio é determinada pela competitividade do custo relativo da tecnologia, pelo suporte regulatório e pela prontidão do mercado, que podem variar conforme a região. Nos últimos cinco anos, mais de 80% dos investimentos das empresas estabelecidas em tecnologias climáticas foram voltados a energia solar, energia eólica terrestre, veículos elétricos e baterias. Essas quatro tecnologias são negócios do “horizonte 2”, comercialmente viáveis em grande parte do mundo.

Enquanto a maioria das empresas estabelecidas busca negócios adjacentes para alavancar sua expertise principal e a base de clientes existente, outras estão diversificando para áreas inteiramente distintas. Por exemplo, algumas produtoras de metais e minerais têm investido em energias renováveis e combustíveis de baixo carbono para diversificar seu portfólio e explorar maneiras alternativas de criar valor.

As prescrições das empresas estabelecidas para o sucesso em tecnologia climática

Embora investir em negócios de tecnologia climática envolva riscos, e nem todas as empresas estabelecidas tenham sido bem-sucedidas, tais investimentos têm o potencial de criar valor futuro para os acionistas. Histórias de sucesso incluem a NextEra Energy, que se tornou uma das maiores produtoras de energia renovável; a LG Chem, que ascendeu à vanguarda da fabricação de baterias para veículos elétricos; e a MAN Energy Solutions, que tem acelerado a cadeia de valor do hidrogênio.

Empresas estabelecidas que tiveram sucesso em negócios dos horizontes 2 e 3 souberam compreender a proposta e tomaram medidas decisivas para aprimorá-la. Também buscaram a excelência na execução e avaliaram o momento certo para investir e escalar. Identificamos dois arquétipos de empresas que fizeram investimentos climáticos bem-sucedidos: as “expansoras pioneiras” e as “seguidoras ágeis”.

Expansoras pioneiras investem cedo em tecnologias já comprovadas, mas em estágio inicial (horizonte 3). Elas inovam para reduzir custos e as necessidades de capital, gerar melhorias de desempenho que tornem as tecnologias climáticas viáveis, moldar ambientes regulatórios favoráveis, encontrar nichos lucrativos, buscar clientes dispostos a pagar um preço premium no início, e injetar um volume substancial de capital no momento certo – por exemplo, quando o negócio estiver pronto para começar a migrar para o horizonte 2. Essas empresas estabelecidas se beneficiam das vantagens de serem precursoras

Seguidoras ágeis investem em tecnologias climáticas prontas para escalar, com demanda comprovada e, às vezes, incentivos regulatórios (horizonte 2). Essas empresas estabelecidas aproveitam sua capacidade de execução para escalar em ritmo acelerado e consolidar uma posição forte no mercado. Embora as seguidoras ágeis desfrutem a vantagem de um risco tecnológico menor, é essencial que elas escalem rapidamente.

Uma empresa estabelecida pode ter sucesso com qualquer uma dessas abordagens, dependendo apenas de seu apetite ao risco e de sua capacidade de provocar disrupção e de executar em ritmo acelerado.

Nossa pesquisa também revelou dois modos de fracasso decorrentes da inabilidade de identificar o momento certo. O primeiro é investir cedo demais em negócios do horizonte 3, antes que estejam prontos para ser escalados. O segundo é investir pouco e devagar demais em negócios do horizonte 2, e acabar atrás de concorrentes que souberam quando acelerar.

A fórmula de hiperescala que introduzimos em 2022 também se aplica a empresas estabelecidas, mas com algumas nuances. Todos os elementos são importantes, mas nossa pesquisa sugere que essas empresas terão mais a ganhar se desenvolverem seus pontos fortes inerentes: o peso do seu balanço patrimonial, a escala organizacional, as capacidades estratégicas, a base de clientes existente e as relações com fornecedores, por exemplo.

A fórmula serve de orientação, ajudando a mitigar riscos e acelerando o progresso dos investimentos em negócios de tecnologia climática, o que muitas vezes depende da clareza da proposição original, da prontidão da empresa estabelecida e do momento certo do mercado. No entanto, os negócios dos horizontes 2 e 3 exigem abordagens bem diferentes (Quadro 2).

Para hiperescalar negócios do horizonte 2 é preciso focar a qualidade da execução e da industrialização; por sua vez, para hiperescalar negócios do horizonte 3 é preciso aumentar a prontidão para escalar.

Lições de empresas precursoras

No atual cenário de instabilidade política, geopolítica e macroeconômica, os investimentos em negócios de tecnologia climática podem ser incertos. Resumimos aqui três estudos de caso de empresas estabelecidas que fizeram investimentos climáticos bem-sucedidos. (Os casos são examinados em mais profundidade no relatório completo em inglês.) As lições talvez não sejam diretamente aplicáveis a todas as situações, mas oferecem uma orientação valiosa para qualquer organização.

A NextEra Energy é uma importante empresa de energia que reúne a maior concessionária de eletricidade dos Estados Unidos, a Florida Power & Light Company, e uma das maiores empresas de geração de energia renovável do mundo, a NextEra Energy Resources, expansora pioneira na produção de energia eólica e solar. Em 1979, A NextEra Energy (então FPL Group) começou a explorar combustíveis alternativos. Em 1997, fundou a NextEra Energy Resources, focada em energia limpa, e em 2009 tornou-se uma das maiores produtoras de energia solar dos Estados Unidos, posição que ocupa até hoje. Sua capacidade atual de gerar e armazenar energia renovável é de cerca de 30GW, além de uma capacidade pendente de aproximadamente 22 GW e um pipeline de projetos com mais 300 GW.

Outro exemplo é a LG Chem, fundada em 1947 como uma empresa de produtos químicos para cosméticos. Posteriormente, expandiu para o setor petroquímico e vem construindo negócios de tecnologia climática há mais de duas décadas, tendo hoje um vasto portfólio que inclui mobilidade elétrica, tecnologias circulares, hidrogênio, armazenamento de energia e outros negócios de biotecnologia. Em 2002, a LG tornou-se uma expansora pioneira de baterias para veículos elétricos, depois de ter começado com baterias para produtos eletrônicos de consumo em 1992. Continuou investindo e expandindo seus negócios de baterias e, em dezembro de 2020, desmembrou a LG Energy Solution (LGES), que se tornou parte do grupo de empresas asiáticas que abastecem mais de 70% do mercado global de baterias para veículos elétricos. As baterias xEV da LGES são utilizadas em mais de 11 milhões de veículos, tornando a empresa uma das maiores fabricantes mundiais de baterias para veículos elétricos.

Um terceiro exemplo é a Tata Power, uma das maiores empresas integradas de energia da Índia, com uma história de mais de um século. É uma expansora pioneira em energia solar que investe em tecnologias climáticas desde o início da década de 1990. Desenvolveu a geração de energias renováveis, ampliou seus negócios na área de engenharia, procurement e construção solares, e promoveu a descentralização energética ao investir em processos de carga de veículos elétricos, microrredes rurais, bombas solares e módulos fotovoltaicos para telhados. Desde 2018, quase 60% de seu investimento de capital, totalizando mais de $4 bilhões, foram para seus negócios de energia renovável, comissionando quase 11,5 GW em projetos solares por toda a Índia, muitos deles inéditos, como energia solar flutuante, energia solar vertical e garagens solares para automóveis. Desmembrou recentemente seus negócios de energia renovável ao criar a Tata Power Renewable Energy e expandiu sua integração reversa para a fabricação de painéis fotovoltaicos. O valor de mercado da Tata Power cresceu seis vezes desde 2018. É uma das maiores empresas de energia renovável e a maior empresa de telhados solares da Índia, cujas instalações totalizam mais de 2 GW.

Inúmeras oportunidades de investimento para as empresas estabelecidas

Os negócios do horizonte 2 estão muito longe da saturação. Mesmo em áreas de tecnologia climática comercialmente maduras – como energia solar e eólica, veículos elétricos e baterias de íons de lítio – ainda há oportunidades significativas para as empresas estabelecidas investirem, principalmente como seguidoras ágeis. Estima-se que a eletrificação continuará acelerando na indústria, na construção civil e nos transportes, criando oportunidades tanto em energias renováveis como em toda a cadeia de valor da eletrificação.

Há também indícios iniciais de que algumas empresas do horizonte 3 estão se aproximando do ponto em que a escalabilidade se torna viável, o que criará oportunidades para as empresas estabelecidas desenvolverem esses negócios e liderarem como expansoras pioneiras. Os investimentos em muitos negócios do horizonte 3 estão aquém do esperado já há alguns anos. Houve atrasos e cancelamentos de projetos, mas de modo geral o investimento nas principais tecnologias do horizonte 3 vem crescendo. Investimentos nos estágios iniciais aceleram a prontidão tecnológica e a competitividade de custos.

Os negócios do horizonte 3 continuam sendo uma proporção pequena dos empreendimentos de tecnologia climática das empresas estabelecidas, mas os gastos aumentaram naqueles que são fronteiriços com o horizonte 2 (Quadro 3). Também temos observado que os capitalistas de risco começaram a transferir seu foco para negócios do horizonte 3 e têm tido papel importante nos aproximadamente 175 unicórnios de tecnologia climática2 criados desde 2015.

Assim como os carros no final do século 19 ou os celulares no final do século 20, os negócios de tecnologia climática passarão por ciclos de expansão e retração, com muitos novos entrantes e muita consolidação. Porém, juntamente com os riscos, esses ciclos também oferecem às empresas estabelecidas a oportunidade de sincronizarem seu ingresso com o momento mais propício de cada um, utilizando seus ativos para executar com rapidez e sobreviver às tempestades.

Diante das novas e antigas incertezas e pressões econômicas, equilibrar as prioridades de curto e de longo prazo sem perder a resiliência nunca foi tão crucial. A qualidade das decisões tomadas em tempos difíceis tende a fazer com que as vencedoras se destaquem dos demais. Portanto, este é o momento ideal para as empresas estabelecidas avaliarem sua posição face às oportunidades de crescimento com negócios de tecnologia climática. Nosso relatório completo inclui uma série de perguntas diagnósticas que devem ser feitas ao avaliarem seus investimentos.


Os investimentos realizados por empresas estabelecidas para expandir negócios focados no clima aumentaram nos últimos anos, mas ainda há espaço para muitas outras explorarem essa área promissora. As tecnologias climáticas têm o potencial de gerar valor substancial ao longo da próxima década; a McKinsey estima que esse mercado poderá gerar entre $9 e $12 trilhões em vendas anuais até 2030. Mesmo com alguns percalços, as oportunidades de mercado continuam excelentes para tecnologias que estejam prontas para escalar técnica e economicamente. Com a expansão ocorrida nos últimos cinco anos, as empresas estabelecidas têm a chance de assumir um papel de liderança na aceleração desses empreendimentos no amplo espaço que permanece aberto para os negócios do horizonte 2 e a próxima onda de negócios do horizonte 3.

Embora reconheçamos que as empresas estabelecidas estejam enfrentando desafios específicos em seus negócios principais e têm adotado prioridades estratégicas distintas, nosso relatório revela exemplos de como algumas construíram negócios bem-sucedidos de tecnologia climática. Observando diferentes setores e regiões, vemos que este é o momento certo de todas as empresas estabelecidas se perguntarem se existem oportunidades propiciadas pelas questões climáticas que possam ser aproveitadas para garantir um crescimento saudável no presente e no futuro. E para as empresas que decidirem ir atrás dessas oportunidades, há importantes lições a aprender com as que as antecederam.

O relatório completo em inglês está disponível aqui.

Explore a career with us